Maid - da América pobre, egoista, insensível

Foto Margaret Qualley
Copyright Ricardo Hubbs/Netflix


"Maid", ou Criada em português, é o título de uma minissérie, disponível na plataforma Netflix, inspirada numa autobiografia. Emocionante do primeiro, ao décimo episódio. Capaz de transmitir sempre todos os sentimentos implícitos na personagem. A determinada altura senti-me como se estivesse na pele da própria Alex, personagem principal do drama. 

Alex inicialmente é apenas mais um vítima de violência doméstica. No caso violência psicológica que, pelos vistos nos grandes Estados Unidos da América, não é passível de ser provada em tribunal, e à qual não é dada a devida importância. Alex foge de casa, sabe que a vida que leva e a forma como é tratada pelo companheiro não são as mais corretas, apesar de não ter exatamente consciência de que sobre de violência doméstica. Sem dinheiro, sem trabalho, sem teto. Alex não tem nada. Passa a viver de vouchers, de instituições de acolhimento para vítimas, da boa vontade de amigos, e das horas que faz numa empresa de limpezas.

A série descreve a longa e dura jornada que a personagem percorre para conseguir seguir os seus sonhos, longe da pobreza, da violência, do abandono, da falta de apoio familiar, do alcoolismo, das doenças mentais. Derrubando todas as barreiras, sempre com a sua filha Maddy ao colo. È a maternidade que dá a Alex o "clique" para a sua fuga e onde vai buscar as todas as forças. 

Enfrenta o preconceito da "profissão inferior", sem nunca dar grande importância. Com o objetivo de todos os dias ter dinheiro para dar o conforto mínimo à sua filha, é desprezada pela patroa para quem trabalha, pelas colegas, pelos donos das casas onde faz limpeza. 

Com histórico de violência na infância, Alex reflete as experiências observadas nos pais em si própria, mas rapidamente se apercebe que não é o caminho que quer seguir. O amor vira raiva e a raiva vira amor numa fração de segundos. Apesar das recaídas no seu trajeto, acaba por se libertar da relação tóxica, e lutar pela sua difícil independência. 

Uma independência muito, mas muito, abaixo do limiar da pobreza. Num mundo em que tudo custa dinheiro, e que o tempo de todos é escasso, Alex tenta ter sempre, pelo menos, que a sua filha não passe fome. Uma verdadeira luta pela sobrevivência. Tudo aquilo pelo o qual as vítimas não deviam passar. 

A mensagem torna-se positiva e altamente instrutiva. É uma mensagem de força a todas e todos os que passaram, passam ou sentem que podem um dia vir a passar por isto. Uma série obrigatória para todos. Obrigatória para os que têm relações tóxicas, para os que têm relações saudáveis, para os pais, para os filhos, para os educadores. A educação é a solução a longo prazo desta grave "doença" social.

Dei por mim a chorar enquanto via cada episódio. Senti a amargura e a angústia da Alex muitas vezes. Senti as portas fechadas, a falta de soluções, a ausência de apoio. Agradeci muito por ter nascido numa família saudável, por nunca ter tido uma relação que me diminuísse. Agradeci por ser livre. 

Aproveitem o fim-de-semana para ver a série. Vê-se muito bem em alguns dias. Ainda por cima ouvi dizer que vem aí a chuva. Nada melhor do que um sofá, uma manta e uma série que valha a pena. 

"Maid" vale a pena.


Foto Margaret Qualley
Copyright Ricardo Hubbs/Netflix


Nem só a agressão física é violência.

Não puder ter opinião ou vontade própria é violência.

O telemóvel ser controlado por outra pessoa é violência.

O e-mail sem controlado por outra pessoa é violência.

Não ter acesso ao dinheiro da família é violência.

Não puder fazer o que queremos é violência.

Não puder vestir o que queremos é violência.

Não puder conhecer outras pessoas é violência.

Ser proibida de trabalhar é violência.

Atos agressivos, mesmo que não sejam físicos, são violência.





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